Belo Monte e as capitanias hereditárias

Belo Monte será leiloada em 20.04 e o governo não conseguiu aumentar o número de licitantes: apenas dois consórcios estão habilitados para o certame.

Para garantir o martelo na bigorna, o governo transigiu: juros subsidiados, alongamento de prazo para a liquidação do financiamento e redução de impostos a quem turbinar a volta grande do Xingu.

Com as bondades jorradas, Belo Monte se viabiliza por R$ 40 bilhões (há todo tipo de custo aí) parecendo que custou R$ 20 e nós pagaremos a diferença às empreiteiras.

Eu preferiria, neste caso, que a própria União tocasse a obra, já que quem vai arcar com todos os riscos é o contribuinte.

Cobre-se de razão a Mary O'Grady, editora do "Wall Street Journal", quando escreveu que "quanto mais a elite do Brasil fala sobre sua parceria público-privada, mais soa como o mesmo velho corporativismo latino". É isso mesmo que ocorrerá em Belo Monte: o público entra com os custos e o privado com o lucro.

É o nosso fado desde quando D. Manuel, O Venturoso, fez a primeira parceria público-privada destas bandas, as capitanias hereditárias: a maioria dos donatários nem pisou por aqui e preferiu torrar os subsídios nos vales do Tejo.

Graças ao Marquês de Pombal, que em 1759 extinguiu a hereditariedade das capitanias, Belo Monte não fará parte da herança dos que assinarão a Carta Foral após o arremate.

Entendeu, meu caro André, Marquês do Uriboca, o porquê do seu amigo aqui ter ficado cético e, sometimes, até cínico? Ou você ainda acha que haverá amanhã para o que éramos ontem? Paremos com isto. O sinal está fechado para nós: e nem mais somos jovens.