Belo Monte, de novo

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A minha maior dúvida sobre Belo Monte é a caixa preta em torno do custo final da obra.

Baseado na experiência de Tucuruí, opino que da forma como o projeto está confeccionado a composição de preços a ser leiloada em maio não corresponderá à verdade.

O Brasil iniciará uma obra sem saber quanto pagará por ela. Este açodamento não é consequente: temos tecnologia suficiente para não marcar este “blind date”.

Não há como não intuir que Belo Monte está sendo tangida à vela das grandes construtoras e, embora não se possa refutar a sua necessidade, poder-se-ia discutir a conveniência do seu momento.

Não se deveria, ainda, fundamentar a urgência no crescimento do PIB, pois se fosse verdadeiro o cotejamento na proporção que se alega, o Brasil já estaria em colapso energético desde 2002.

Não quero negar a proporção PIB x Demanda energética. Quero sugerir que há estoque energético na ordem de 30% da face atual, que cobririam a demanda com medidas tecnológicas disponíveis e isto já seria uma Belo Monte.

Estamos colocando termoelétricas para funcionar, quase exclusivamente, por deficiência de transmissão e não porque não temos oferta hidroelétrica.

Além do mais, a energia firme de Belo Monte é menos da metade da geração de pico e há opiniões de que a construção de várias usinas, com o mesmo custo de Belo Monte, ao fim gerariam mais energia firme para o sistema.

Não discuto a necessidade de Belo Monte como reserva estratégica de energia, mas estou convencido de que a sua concepção é a mesma de Tucuruí e isto está errado.

Ao final, encostadas todas estas discussões, e diante do império de fazer a obra, a União, ao menos, deveria ser mais cuidadosa e evitar o açodamento da pressa, pois cada 10% a mais na planilha significará de R$ 2 a R$ 3 bilhões a mais no custo final, que eu, se apostasse, apostaria que chegará às raias dos R$ 40 bilhões e essas contas podem tardar, mas chegam.

Comentários

  1. Caro Deputado,

    Sou de Altamira e quero a construção de Belo Monte pelo que a obra poderá trazer de recursos para a nossa região. Mas, admiro a sua postura responsável e o senhor é conhecido como uma pessoa que sabe o que fala e o que escreve. Portanto, mesmo querendo a obra urgentemente, não deixo de lhe dar razão.

    Aloisio Augusto Nogueira

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  2. Parcifal, o estudo de Belo Monte remonta desde de mais de 10 anos atrás.Ao longo do tempo foi se ajustando para atender as exigências que provocasse o menor impacto ambiental.Logo deputado, discordo do "blind date".O custo da obra será apresentado quando do leilão,onde se definirá a tarifa.Este será o momento onde esta questão ficará transparente, podendo qualquer questionamento ser abordado sobre o assunto.Também sabemos que o consórcio vencedor, será privado com participação no máximo de 49% de alguma empresa da eletrobrás (ou algumas).A estratégia de termos a matriz energética mais limpa do mundo, vem de encontro aos anseios dos ambientalistas.E como vc sabe o planejamento energético é feito com 10 a 20 anos de antecedência.Hoje realmente temos uma reserva técnica de aproximadamente 30%, feita a partir do colapso que tivemos, porém com termoelétricas,onde o governo exigiu que a Petrobrás investisse nas mesmas, hoje se tornando importante elemento na matriz energética do País.Hoje a grande questão mundial é como diminuir a emissão de particulados, então vejo incoerência neste ponto.O que seria pior pro planeta? A Eletronorte até pouco tempo atrás era a maior consumidora de óleo diesel do Brasil, já pensou na quantidade de particulados emitidos contribuindo para o efeito estufa?A solução tardou mas chegou, estão interligando Manaus através de uma LT que vai pela calha norte,beneficiando todos aqueles mmunicípios, deixando de emitir milhões de toneladas de gás csrbônico.Agora como paraense precisamos ter uma política mais vantajosa pro Estado,uma vez que contribuiremos com uma parcela significativa de MW do nosso sistema, ficando com o onus do impacto.Encaro essa discussão da mesma maneira que os estados produtores de petróleo do pré-sal estão fazendo hoje no congresso.Abordarei sobre a questão da energia firme,esta energia é aquela que pode ser comercializada em contratos de longa duração.O que a grande maioria não sabe é que existe um descompasso entre os reservatórios das UHE no país,quando alguns estão cheios outros estão com a cota baixa.Vou me despedindo por aqui.Abss

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  3. Olá Cláudio,

    Eu acompanho Belo Monte desde a concepção do projeto. De fato o cenário inicial mudou, para melhor e o que se tem hoje é o estado de arte: não acredito que se possa fazer melhor com a atual tecnologia disponível.
    Concordo também que a nossa matriz energética é uma das de menor impacto ambiental potencial.
    É verdade, também, como relatei na postagem, que o investimento em termoelétricas é um índice de gap nas LTs.
    A questão das diferenças de níveis, se resolve hoje com "transporte de água", pois o sistema é relativamente interligado: aí vem, novamente, o gap das LTs.
    Nos falta, ainda, investimento em C&T para sermos capazes de armazenamento dos picos, quando se joga energia potencial fora, nos vertedouros. E isto poderia estar incluído como acessório em Belo Monte.
    Não vejo discordâncias conceituais nos nossos pontos de vista, salvo a questão do blind date.
    Asseguro-lhe, por conversas reservadas com interlocutores privilegiados: a União vai leiloar Belo Monte sem propriedade de custos e acuidade de preços, e isto só acode as construtoras. Ainda, o projeto foi elaborado "à seco", sem considerar os custos amplos de mitigação a posteriori, o que mascara a composição final imediata de valor da unidade de consumo.
    Por fim, a grande questão, que você mesmo coloca: onde o Pará entra nisto? Restar-nos-á, mais uma vez, apenas o impacto? Ficaremos apenas com a vantagem periférica?
    Ou entestamos agora, para incluir tudo em um grande projeto de desenvolvimento regional, com uma usina para prover os meios, ou daqui a 10 anos o Brasil terá uma nova usina, e o Pará continuará sem os meios.

    Agradeço-lhe a colaboração na questão. Volte sempre.

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